SÃO PAULO – A inesperada dança das cadeiras que levou à troca do comando de seis ministérios do governo federal e culminou na saída dos chefes das três Forças Armadas trouxe um saldo negativo para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguns aliados de primeira hora de sua gestão.
Esta é a avaliação da maioria dos analistas políticos consultados na 25ª edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as avaliações e expectativas de consultorias de análise de risco político e analistas independentes sobre alguns dos assuntos em destaque na política nacional.
O levantamento, realizado entre 6 e 8 de abril, mostra que 85% dos entrevistados veem Bolsonaro enfraquecido após a reforma ministerial da semana passada. Clique aqui para acessar a íntegra.
A chamada “ala ideológica” é outra que também teria perdido espaço. Nem o ministro Paulo Guedes (Economia), na avaliação dos analistas, passou incólume pelas mudanças, embora nenhuma delas tenha atingido sua pasta diretamente.
Por outro lado, há um consenso de que o “centrão” é o grande vencedor do processo. O grupo já se aproximava e conquistava espaços no governo federal desde o ano passado, em meio ao agravamento da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus e diante do risco de Bolsonaro sofrer um processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
Além de responsável pela queda de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores – uma semana após a saída do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde –, o “centrão” emplacou Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo, pasta responsável pela articulação política do governo.
A deputada federal chega ao Palácio do Planalto para substituir o general Luiz Eduardo Ramos, que assumiu o comando da Casa Civil – pasta antes sob a gestão do general Walter Braga Netto, transferido para o Ministério da Defesa com a demissão do também general Fernando Azevedo e Silva.
“A última reforma ministerial aumentou a dependência de Bolsonaro em relação aos partidos do ‘centrão’ que controlam o Congresso”, diz um dos analistas consultados.
Já o saldo da reforma para a ala militar do governo e para membros das Forças Armadas que não ocupam cargos na atual administração dividiu opiniões. Mas em ambos os casos, há uma maioria que acredita em perda de força – mais expressiva para os que hoje participam diretamente da administração Bolsonaro.
A demissão de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa levou a uma crise inédita na redemocratização entre governo e Forças Armadas. O episódio fez com que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica entregassem os cargos. Foram escolhidos para os respectivos postos o general Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier Santos e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
“Bolsonaro ficou mais fraco após a reforma ministerial, pois ficou mais isolado em relação ao estamento militar ativo, contudo reforçou suas defesas contra o encurtamento de seu mandato e plantou sementes para possíveis movimentos de viés golpistas mais adiante”, pontuou um dos participantes.
Esta edição do Barômetro do Poder contou com 13 participantes, sendo 9 casas de análise de risco político – BMJ Consultores Associados, Control Risks, Dharma Political Risk & Strategy, Empower Consultoria, MCM Consultores, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Prospectiva Consultoria e Tendências Consultoria Integrada – e 4 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe), Carlos Melo (Insper), Claudio Couto (EAESP/FGV) e Thomas Traumann.
Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados do levantamento são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e comentários.
O saldo dos choques
O Barômetro do Poder mostrou que, apesar da recente crise envolvendo os militares e constantes choques entre o Poder Executivo e outras instituições, o risco de o país experimentar uma ruptura institucional até janeiro de 2023 é considerado baixo por 69% dos especialistas. Nenhum entrevistado atribuiu elevada probabilidade para tal desfecho.
Também permanecem baixas as avaliações sobre a possibilidade de abreviação do mandato do presidente Jair Bolsonaro, seja por impeachment, cassação ou renúncia. Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das respostas indica uma atribuição de chance de 2,15.
O número, porém, representa um salto de 0,65 ponto em comparação com o último levantamento, feito em fevereiro. De todo modo, vale pontuar que nenhum dos entrevistados vê elevada probabilidade de Bolsonaro deixar a presidência antes do fim do mandato.
O levantamento também mostra que, dividindo os 513 deputados e os 81 senadores em três grupos (alinhados com o governo, de oposição e indefinidos), a média das estimativas dos entrevistados aponta para uma base aliada com 238 assentos na Câmara (46%) e 28 no Senado (35%).
É a terceira alta seguida na Câmara dos Deputados, na melhor marca desde março de 2019, quando a média das projeções apontava para uma bancada com 240 assentos na casa legislativa. Já no Senado Federal, o resultado representa um recuo de 1 parlamentar.
Apesar disso, de fevereiro pra cá, caiu de 25% para 15% o percentual de entrevistados que veem elevada capacidade de o governo aprovar proposições no Congresso Nacional. Em uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto), a média das respostas sobre o poder de agenda da atual administração indica uma taxa de 3,00.
Na avaliação de 31%, é boa a relação entre Poder Executivo e Poder Legislativo. Porém, 54% esperam uma piora no clima ao longo dos próximos seis meses, ao passo que apenas 8% acreditam em melhora. A situação também pode sofrer mudanças a depender da solução que o governo der para o imbróglio envolvendo o Orçamento Geral da União de 2021.
Vale ressaltar, ainda, que o levantamento foi encerrado antes da notícia da decisão liminar do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a instalação da chamada “CPI da Covid” pelo Senado Federal – evento que pode ampliar o nível de pressão política sobre Bolsonaro.
O Barômetro também identificou uma nova piora nas avaliações sobre a relação entre Poder Executivo e Poder Judiciário. De fevereiro para cá, subiu de 56% para 69% o grupo de entrevistados que avaliam como ruim a interação entre as instituições. Apenas 8% classificam a relação como positiva.
“Com o inevitável aumento do número de mortos atingidos pelo vírus e a piora nas condições econômicas, a pressão sobre o governo aumentará significativamente”, diz um dos analistas.
“A falta de resultados do governo no combate à pandemia vai piorar sua relação com o STF e paralisar as votações no Congresso”, avalia outro especialista.
Apesar do leve crescimento nas estimativas da base aliada do governo no Congresso Nacional, o levantamento de abril mostrou uma significativa piora na percepção sobre o andamento da agenda de reformas econômicas – especialmente no caso da reforma tributária e das privatizações – e riscos fiscais relevantes.